quinta-feira, 6 de dezembro de 2012


Pedagogia – Uerj/CEDERJ
Pólo São Pedro da Aldeia
Seminário 4 – Projetos
Relatório final - revisitado
Luís Augusto Siqueira de Oliveira
3° período
(oluisaugusto@gmail.com)
06/12/2012
 
Algumas notas sobre uma noção de projeto na educação contemporânea e outras sobre os Direitos Humanos para crianças e jovens

“O presente que se ignora vale o futuro”
Machado de Assis

... a reflexão sobre a prática constitui o questionamento da prática, e um questionamento efetivo inclui intervenções adequadas.
Matthew Lipman

“Se os estudantes fossem compreendidos como produtores de conhecimentos os professores seriam compreendidos como administradores de experiências de aprendizagem”.
Willis Hawley

Uma possível noção de projeto em contextos escolares, não especificamente em “salas” de “aula”, pode ser concebida como uma modalidade de trabalho que desenvolve investigações coletivas orientada ou administrada por um(ns) professor(es) e cujos temas são fundamentalmente resultantes de questões (de algum modo) significativas para os envolvidos, problemas que, para além de se conhecer, se deseja resolver . A condição de toda resolução é o doar-se. A resolução de problemas é uma forma pró-ativa de abordagem à complexidade das coisas, do mundo, da vida, e ela convida os realizadores de dado projeto a imergirem nos mais diversos agenciamentos de informações, conhecimentos, fontes, declarações, observações, análises, atitudes, o que for. Esta nova configuração da prática educacional pautada nos modelos construtivistas opera segundo uma concepção de educação como investigação, cultivando todo e qualquer estudante como produtor de conhecimento e não um passivo consumidor de informações e habilidades (Lipman, 1995). A tarefa do projeto, seu sentido, é realizar um processo de aprendizagem, de modo a auferir a passagem de um não sabido ou inexato para o âmbito do sabido, do compreendido, mesmo que provisoriamente, mas com clareza, considerando em nossa atualidade, a rapidez das transformações de paradigmas, fazendo com que os envolvidos utilizem o entendimento sem a direção de outro (Foucault, 2011), mas com a cooperação de tudo e de todos que auxilie a tal. Não seria essa uma das funções da educação hoje? Preparar o homem para reger a si perante o mundo e com o mundo. Jorge Larrosa em uma recente comunicação (outubro de 2012) na PUC-Rio, afirmou ser dever da escola transmitir o mundo. No entanto, que mundo transmitir? O mundo se resumirá à que disciplina?
Quando o seminário propôs a realização de um blog como projeto de trabalho, não hesitei em sugerir ao grupo que realizássemos algo no campo dos Direitos Humanos para crianças. Um tema ainda pouco difundido em nossas escolas, ou, quando muito, tratada de forma descontínua, e absolutamente importante para instrumentalizar crianças e jovens a atenuarem os efeitos das desigualdades em contextos familiares, sociais, econômicos, escolares, cognitivos, e encaminhá-los através de uma educação consciente e compromissada para o pensar crítico e o agir democrático em sociedades tanto ditas democráticas e quanto ainda não-democráticas. Estabelecer a aprendizagem dos Direitos Humanos para crianças e jovens visa imprimir as bases da justiça através do desenvolvimento da compreensão dos princípios básicos de dignidade, igualdade, liberdade, respeito, particularmente no plano cognitivo, e, porque não, afetivo. Daí, principiarmos o blog Voz da Infância pela compilação de algumas trilhas para uma introdução aos Direitos Humanos para crianças e jovens, buscando fontes de informação e de capacitação para professores, gestores e funcionários escolares, pais, ativistas e a quem interessar possa para o trabalho em salas-de-aula, clubes, praças públicas, igrejas, lares, campos, espaços etc. Trazer as lentes para ver cada pessoa, cada família, cada comunidade, cada povo, cada país com respeito, algo mais que tolerância, é o sentido dos Direitos Humanos.
De acordo com o Curso Introductorio de Educación em Derechos Humanos, do Instituto Interamericano dos Direitos Humanos, educar segundo os Direitos Humanos é também educar para a democracia; é uma ação que orienta as pessoas a (re)conhecerem-se como sujeitos de direitos e deveres, habilitando-as a agir, mas principalmente, a agir mais conscientemente e coletivamente. Outro aspecto importante é que os Direitos Humanos perspectivam a política segundo um viés cosmopolita e ultrapassa certos limites impostos por tendenciosas ideologias cívicas, nacionalistas, religiosas, financeiras, econômicas, culturais, industriais etc. Os Direitos Humanos nascem de uma demanda que historicamente surge em contextos de reivindicações, especialmente acerca da dignidade e da justiça, e existem, ainda neste momento, para amenizar a profunda assimetria que ainda rege os desenvolvimentos da humanidade. Transmitir esses valores às crianças e aos jovens é semear justiça. Primeiros passos para uma outra educação da infância de nossa humanidade.


Bibliografia:
Foucault, Michel. O governo de si e dos outros: curso no Collège de France (1982-1983). São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.
Freire, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. 14. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983.
Freire, Paulo. Pedagogia do oprimido. 50. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.
Gollob, Rodolf e Frapf, Peter. Exploring Children’s Rights: Nine short projects for primary level. Strasbourg, Council of Europe Publishing, 2007. [PDF]
Gollob, Rodolf e Frapf, Peter. Educating for democracy: background materials on democratic citizenship and human rights education for teachers. Strasbourg, Council of Europe Publishing, 2010. [PDF]
Lipman, Matthew. O pensar na educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
Sodré, Muniz. Reinventando a educação: diversidade, descolonização e redes. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
Office of the United Nations High Commissioner for Human Rights. ABC: Teaching human rights, practical activities for primary and secondary schools. United Nations, New York and Geneva, 2005.
Virginio, Alexandre Silva. Educação e sociedade democrática: interpretações sociológicas e desafios à formação política do educador. Sociologias,  Porto Alegre, vol. 14 nº 29, Apr. 2012.

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